Poucos diretores podem dizer que gravaram filmes simultaneamente para uma franquia amada. Isso pode ser eficiente em termos de custo para a maioria dos estúdios de Hollywood, mas é uma raridade. Neste século, tivemos os 3 filmes de “O Senhor dos Anéis”, de Peter Jackson, “Matrix Reloaded” e “Matrix Revolutions”, dos Wachowski, e, mais recentemente, o segundo e o terceiro “Piratas do Caribe”, de Gore Verbinski. Jackson está novamente em ação com dois filmes “Hobbit”, mas o mais recente cineasta a entrar para esse exclusivo clube é ninguém menos que o vencedor do Oscar, Bill Condon. O homem por trás de filmes aclamados como “Kinsey,” “Dreamgirls” e “Deuses e Monstros” mergulhou no mundo de Twilight, de Stephenie Meyer, com “The Twilight Saga: Breaking Dawn, Partet 1″ e “The Twilight Saga: Breaking Dawn, Parte 2.” Os primeiros dos filmes chega aos cinemas no próximo mês e, sem surpresa, as apostas de pré-estreia mostram que o interesse nas vidas de Bella e Edward Cullen não diminuiu desde que “Eclipse” foi lançado 16 meses atrás.
Eu conheci Bill algumas semanas depois de ele retornar de Sundance e a premiere de “Deuses e Monstros” (isso foi há muito tempo, em 1998, para vocês aí em casa). Muita coisa aconteceu desde então, mas ao longo de uma tonelada de sucesso nas telonas e a co-produção das melhores transmissões do Oscar na última década (sem ser tendencioso, é a verdade), nada pode tê-lo preparado para pular a bordo do trem “Twilight”. Com “Breaking Dawn, Parte 1″ completado e apenas algumas semanas até a estreia, Bill foi gentil o suficiente para atender o telefone essa manhã e bater um papo sobre a jornada até agora.
-Parabéns por terminar ‘Breaking Dawn, parte 1′. Você considera isso a marca da metade?
BILL Oh, facilmente mais que isso, porque nós gravamos os dois filmes simultaneamente. Tenho um bom material para o segundo filme, então estamos na bela marca 3/4 e mais. Comecei isso apenas com rascunhos, então sim, estamos aí.
-Você se vê na reta final?
BILL Sim.
-A maioria dos frequentadores de cinemas e dos fãs de ‘Twilight’ não perceberiam que você veio de trabalho em um outro filme em que havia essa base de fãs fervorosa. Em ‘Dreamgirls’, houve muita pressão para fazer ‘tudo certo para os fãs’. Você trouxe alguma coisa disso antes de trabalhar em ‘Breaking Dawn’?
BILL Essa é uma pergunta muito interessante e eu suspeito que é parte do apelo de me envolver nisso. Quando você trabalha em alguma coisa que tem uma enorme base de fãs, existe o potencial de muitas armadilhas, mas há essa emoção incrível de ver esse tipo de filme com um público. Se você de alguma forma se conecta aos sonhos deles do que poderia ser, existe uma antecipação especial que você não tem em toda experiência de cinema. Eu fico pensando, eu não pensei sobre isso antes, mas é provavelmente parte do que me animou a fazer isso. Mas sim, existe esse tipo de coisa que você tem sobre seus ombros para tentar – você somente pode fazer isso do seu jeito e na sua visão do que é o material, mas porque isso significa tanto para tantas pessoas, você espera se concetar com o inconsciente coletivo e visualizar isso de uma forma que você possa imaginar. Ou às vezes diferente, mas tão satisfatória quanto.
-Quando isso terminar, você terá feito um longo filme de 4 horas, talvez mais de 4 horas?
BILL Um pouco menos.
-Estou apenas curioso, qualquer pessoa pode se consultar com outros cineastas que fizeram filmes simultaneamente, ou produtores que fizeram filmes que eles sabiam que iam demorar 6 meses para filmar e teriam um longo e elaborado processo de edição. Nesse ponto, todavia, isso tem sido uma empreitada mais complicada do que você achou que seria?
BILL Eu diria que a quantidade certa é metade disso. É exaustivo filmar por 6 meses, sem dúvida. Mas não houve – as pessoas têm pensado: ‘foi confuso ir e voltar filmando uma cena num dia entre o filme 1 e 2?’, mas não foi, porque o segundo filme começa no momento em que o primeiro termina. É um longo filme, sem créditos finais talvez daria um filme só de 3 horas e meia. E foi isso que eu fiz. Eu coloquei os dois scripts juntos. Então, não foi ‘de onde vem uma cena’, foi toda essa história única e contínua, devo dizer.
-Você está falando sobre pular de um filme para o outro. Isso tonou-se difícil adicionar coisas espontâneas no set?
BILL Não, nem um pouco. Acho que muita coisa aconteceu. Eu de fato ensaiei. Eu realmente conversei sobre os roteiros com os atores principais por muitas, muitas semanas e certamente com todo mundo restante ao longo de suas cenas. Mas você entra no set e, meu Deus, um dia fácil era uma cena com 9 vampiros. Então vinham os difíceis, com 27 vampiros, sabe? Certamente, nessas cenas com os Cullens, devido ao desafio de ter tantas pessoas que tinham tantas coisas tão importantes para fazer, era, tipo, ‘Como deixamos isso à vontade? Como nos lembramos que essas pessoas são reais?’. Então, isso se tornou um exercício divertido no set. Você sempre tem que se abrir para esses momentos, porque esses momentos se tornam os mais memoráveis.
-Você fala sobre uma cena em que você tinha 27 vampiros no set, e eu creio que no segundo filme há mais locações de set do que no primeiro. Estou correto?
BILL Sim, eu diria que isso é verdade. Absolutamente.
-É engraçado, acho que alguns fãs teriam palpitações por causa de alguns dos seus trabalhos anteriores, fazendo ‘Dreamgirls’ ou produzindo a transmissão do Oscar. Mas meu palpite seria: esses projetos, em que você tinha números tão elaborados ou cenas que precisavam ser resolvidas, isso tornou mais fácil fazer algumas das cenas de ação desse filme?
BILL Acho que você provavelmente está certo, e não só com a ação. Como qualquer um que tenha lido os livros sabe, nós terminamos em uma grande locação de estúdio com talvez 27 ou 30 vampiros de um lado ajudados por cerca de uma dúzia de lobos contra 80 vampiros do outro lado desse grande confronto. É mais uma discussão, mas com muitas lutas dramáticas dentro dela. E isso foi quase como realizar um grande espetáculo em um palco, porque filmamos isso por 1 mês, sem sequer contar todas as coisas da segunda unidade. A sensação de espetáculo e de se mover fluidamente através disso. Eu realmente me senti como se estivesse conclamando minhas raízes musicais.
-Você fez mais storyboard para esse filme do que para qualquer outro antes?
BILL Sim, bem, é um filme de efeitos. Temos tantas tomadas de efeitos quanto ‘Avatar’ ou mais, nos dois filmes. Especialmente com coisas grandes como os lobos ou Renesmee, e mesmo os poderes de todo mundo, então isso levou a muita pré-visualização também para que você realmente pudesse ter um sentido do que você precisa e com o que as companhias de efeitos especiais irão trabalhar.
-Você na verdade não teve muitos filmes com uma boa quantidade de efeitos especiais antes. Foi empolgante trabalhar com isso?
BILL Foi. Porque, vamos encarar, há tanto que você pode fazer agora e eu acho que nossos mais espetaculares efeitos… acho que não vale nem a pena falar sobre isso antes do filme chegar aos cinemas, mas o que acontece com Bella na última metade de ‘Breaking Dawn, parte 1′ é simplesmente surreal. Se você estivesse fazendo um filme real sobre uma gravidez vampírica, e não tivessem outros vampiros envolvidos – se você estivesse fazendo ‘O bebê de Rosemary’ hoje – apenas as coisas sutis que você pode fazer para comunicas a tensão de um corpo sob ataque e ficando cada vez mais fraco? É extraordinário! Então, aprender essas coisas tem sido uma das maiores alegrias de fazer esse filme.
-Então, uma coisa que deixaria qualquer diretor com o pé atrás é o fato de que você é o quarto diretor com quem esses atores trabalharam. Na tv, onde diretores vão e vêm, você sempre ouve os atores dizendo, ‘É, o diretor apenas me diz onde ficar. Eu conheço o personagem.’ O quão mais abertos do que você esperava os atores estavam para de verdade conversarem com mais um diretor?
BILL Bem, eu não sei sobre os outros, mas certamente explorando comigo, e eles estavam incrivelmente abertos. Sabe, eu chamo isso de ‘Twilight está crescendo,’ mas de certa forma é mesmo. Todos os personagens dão um tremendo passo nessa história e isso é parte do que me fez me interessar pelo material. Colaborar com Kristen Stewart quando ela vai de ser a Bella que conhecemos nos 3 primeiros filmes a ser uma noiva, alguém que finalmente faz sexo, ficar grávida, adoecer, dar à luz, morrer, se tornar uma vampira e se tornar uma guerreira? Apenas pense sobre essa jornada. Acho que para nenhum deles foi apenas interpretar uma coisa velha. Jacob se torna um homem nesse filme. Ele deixa de ser a terceira perna de um triângulo e se torna sua própria pessoa. Então, essa foi uma jornada que todos os atores estavam ansiosos e abertos a colaborar.
-Algum ator te surpreendeu?
Acho que as pessoas vão se surpreender com todos. Em geral, Kristen tem uma jornada tão enorme para seguir e observá-la se tornar essa figura maternal feroz, protetora e ponderosa? Acho que isso supreenderá as pessoas. Taylor me surpreendeu com seu comprometimento e os lugares sombrios que ele vai nesse filme. E Rob, acho que há uma sensação de que ele relaxou nesse papel e está finalmente disposto a mostrar mais de si mesmo. Seu próprio charme, inteligência e graça estão em evidência nesse filme. Me surpreendeu o quão relaxado ele parecia em relação a algo contra o que ele lutou antes.
-Você menciona que pensa nisso como ‘Twilight está crescendo’ por causa dos eventos que acontecem nesse filme. Tem alguma coisa que você fez com os vampiros ou com os lobos que reflete isso também? Eles estão mais sinistros ou amedrontadores?
BILL Acho que isso certamente transparece no Segundo filme. Esses filmes até agora têm lidado basicamente com esses vegetarianos que não atacam humanos, exceto por alguns recém-criados no último filme e algumas pessoas nos 2 primeiros. Mas aqui temos uma coleção do mundo inteiro de vampiros com dons especiais. Então, acho que sim, há uma sensação de talvez ver um lado mais sombrio deles. E eu também acho que também gastamos muito mais tempo no ultimo filme, com Aro e seu extremamente ar sinistro grupo de Volturis.
-Acho que você sabe disso, eu estava no set de ‘New Moon’ quando eles filmaram aquelas primeiras cenas com Michael Sheen e os Volturi, e pareceu na época que foi a coisa mais divertida para ele, interpretar esse personagem. Ele é todo descontraído assim quando se trabalha com ele?
BILL Sim, ele é. Todo aquele grupo. É interessante, porque você passa um grande tempo só com Rob, Kristen e Taylor e depois com os Cullen. E aí vem a hora dos Volturi e é uma energia completamente diferente. É acampamento inglês no seu melhor. Não digo isso de uma forma ruim. Quero dizer, simplesmente pessoas se divertindo muito e sendo muito inteligentes o tempo todo.
-Uma outra coisa interessante para os fãs do seu trabalho e fãs do primeiro filme, é que essa é a primeira vez que você trabalha com Carter Burwell desde ‘Kinsey,’ certo?
BILL Sim, isso mesmo.
-Sei que as 2 últimas trilhas sonoras foram por caminhos radicalmente opostos do primeiro filme. Mas como você quis fazer as trilhas desses 2 filmes?
BILL Em primeiro lugar, eu fiquei simplesmnte tão feliz do Carter querer fazer isso de novo. Mas o Carter alguém que é simplesmente tão original que para ele não é repetir ou voltar ao som de ‘Twilight.’ Aquele foi um som específico para uma história de adolescente, e acho que você vai perceber que esse é mais romântico e exuberante. Entretanto, eu sempre penso nesse quarto filme como um final para o primeiro, e isso nos dá a chance de brincar com Bella’s Lullaby, o tema que foi desenvolvido para o primeiro filme, e fechar o ciclo, porque, obviamente, os ciclios estão se fechando para Bella. Em geral, uma das coisas que é consistente em todas as diferentes perspectives que Carter está tomando – e ele está construindo sua linha a partir do que ele vê – mas isso aconteceu muitas e muitas vezes. É emocionante. Aconteceu comigo quando eu ouvi algumas partes e quando estávamos em Londres gravando a trilha instrumental, ele é o melhor amigo de um ator. Eu vi isso acontecer com ‘Deuses e Monstros’ e ‘Kinsey’, e vi acontecer de novo aqui. [Ele é capaz] de ir tão fundo dentro de um personagem e simplesmente preencher a performance e trazer à superfície o que quer que esteja acontecendo no interior. Acho que ele é uma arma secreta. Acho que os atores deveriam exigi-lo em seus contratos. Ele é extraordinário nisso.
-Os fãs fervorosos vão reconhecer Bella’s Lullaby, estou achando?
BILL Sim, definitivamente tem um papel.
-Existe um tema que é repetitivo ao longo do filme?
BILL Se eu disser que há 3, provavelmente quero dizer 5. Há o tema de Renesmee, que realmente flui no filme 2 e é bem proeminente no filme 1. Há um tema de amor Bella/Edward que é muito tocado ao longo da primeira metade do filme. Tem o tema do Jacob e tem o tema que sugere o amor de todos ao redor da Bella no casamento, especialmente os pais dela, que é realmente adorável. Eu provavelmente estou esquecendo algum, mas esses são os grandes temas.
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